Perfil: Marcelo Caliman Pimentel

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Antes de entrar para o Tribunal, em 1996, Marcelo Caliman fazia estágio em uma financeira. Buscava uma colocação melhor, procurando trabalho em grandes empresas. Foi a namorada Márcia, quem sugeriu que tentasse o serviço público.

“Mas onde deixo meu currículo?” Perguntou para a futura esposa. Explicações dadas, e já cansado de preencher fichas, retrucou: “Só isso? Estudar e fazer prova?” Marcelo sorri ao lembrar-se da história. Não fazia ideia de como iniciar uma carreira pública.

Durante quase um ano, enfrentou uma rotina puxada. Lotado na VT de Guarapari, saía de casa às 6h para chegar ao trabalho antes das 8h, quando começavam as audiências. Naquela época, não havia Rodovia do Sol, tampouco chaves de carro entre seus pertences.

Final de expediente, pegava o busão das 17h de volta para Vitória rumo à Universidade Federal do Espírito Santo, onde cursava Contabilidade. Não precisa ser bom com os números para calcular que o colega só entrava em casa para dormir.

Conseguiu transferência para Vitória, passou por alguns setores, terminou Contabilidade, cursou Direito e há doze anos vem atuando como Secretário da Corregedoria (Secor). A missão não é das mais fáceis. Afinal, o papel da unidade é, entre outros, fazer uma espécie de auditoria nas Varas do Trabalho. O colega, no entanto, faz questão de frisar que o principal foco da Secor é a orientação e prevenção. Cooperação é a palavra de ordem.

Tentamos descobrir qual o segredo para entrar na “casa dos outros” cooperando, e algumas vezes apontando erros e, ainda assim, ser uma pessoa tão querida no Tribunal.

“Querido, eu?” Ele desconversa, mas defende ser fundamental saber ouvir e se colocar no lugar do outro. Brincalhão, completa: “Fiz um curso intensivo depois que constitui família”, diverte-se, o pai de Daniela, 16 e Mariana, 11. “Aprendi com as mulheres: é preciso delicadeza na escuta”, revela o colega que passou a infância cercado de três irmãos, todos homens.

O filho de Dona Terezinha costumava acompanhar a mãe nos finais de semana à Feira de Artesanato na Praça dos Namorados e enquanto ela vendia bolsas artesanais, ele jogava bola.  O lugar traz outra boa recordação. Foi onde marcou o primeiro encontro com Márcia que conhecia apenas da Igreja Batista. O pretexto? Uma festa junina. Olha a chuva! É mentira! Quer namorar comigo? É verdade!

E assim, um dia tomaram o caminho da igreja e depois o caminho da roça, pois o casal é o feliz proprietário de um belo sítio na Serra. “É onde recarrego as baterias”, revela. Lá possui cavalo, boi, cabrito, galinha, peixe, coelho. Faz questão de registrar que não tem caseiro, mas criou um sistema que o permite ficar até 15 dias afastado.

O projeto da casa foi feito pela esposa engenheira, e, além da área de lazer, possui boa estrutura inclusive de Internet, mas mesmo trabalhando remotamente, prefere ficar na cidade durante a semana.

Às quintas-feiras à noite, dá aulas, agora online, sobre a Bíblia. Pedimos, então, para escolher uma passagem ou uma mensagem para transmitir aos colegas nesse momento tão difícil de pandemia.  Rápido, cita uma de Paulo sobre o amor (1 Coríntios 13) e lembra que Renato Russo se inspirou nela para escrever uma de suas mais conhecidas músicas.

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine (…).”

“Em um momento de muito isolamento e individualismo é ainda mais importante colocar amor em tudo o que se faz para as coisas terem sentido”, defende o colega e completa, “o amor nos faz ver o mundo de outra forma”.

Ok, Marcelo, agora, querendo ou não, você respondeu, com todas as letras, a pergunta, lá do início, sobre ser tão querido.

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