Entrevista: Consuelo Pagani

Costumam existir três tipos de pessoas: as que leem o mundo, as que escrevem o mundo e as que fazem ambos. De vez em quando, surge no meio destas um tipo que tem a sorte de saber descrever o mundo.

Esse é o poeta. E o grande desafio é tentar descrevê-lo.

A história da entrevistada de hoje, Consuelo Pagani, não cabe em estrofes e dificilmente encontrará métrica – salvo se for feita por um bom poeta. Mas a prosa é tão boa que talvez não precise.

Foi no município de Corinto, em Minas Gerais, onde os primeiros versos da vida de Consuelo foram escritos. Literalmente. A colega é filha de um intelectual, professor de latim, francês, português e linguística. Pode ter sido daí que surgiu o seu interesse pelas palavras.

O fato é que Consuelo rabiscava o papel com rimas praticamente desde que aprendeu a escrever. Segundo a servidora, quando pequena ela gostava de tirar um momento para ficar sozinha, observando a natureza e colocando os seus pensamentos em ordem, ou melhor, em palavras. “Sempre busquei um momento de solitude saudável”, afirmou.

E foi assim durante toda a sua infância. A colega considera o seu primeiro poema aquele que ela escreveu aos 9 anos, chamado “A Borboleta Negra”. Nele, ela discursava contra a discriminação racial.

A criança prodígio não parou aí: aos 10, em 1970, escreveu um poema chamado “Você Constrói o Brasil” para um concurso de redação e, é claro, ganhou! Foi considerada, então, a “Mini Escritora 70”.

Com o objetivo de expandir os seus caminhos, a colega mudou-se para Belo Horizonte para cursar o ensino médio quando tinha 15 anos. Mas sua morada na cidade não durou muito tempo. Consuelo queria “menos”.

Contato com a natureza

O caos da capital mineira não combina muito com o estilo de vida que a poeta buscava. Por isso, prestou vestibular para oceanografia e começou os seus estudos no município litorâneo de Rio Grande, localizado no Rio Grande do Sul. O contato com a natureza era de extrema necessidade para a servidora.

Lá, casou-se e teve os seus dois filhos, Potira e Miguel, de 39 e 37 anos, respectivamente. A vida era tão tranquila que ela chegou a ter uma vaca, um bezerro e uma ovelha no seu quintal. “Foi o nosso presente de casamento”, diverte-se.

Com toda a correria, Consuelo não concluiu o curso de oceanografia. Entre idas e vindas para Belo Horizonte e sua cidade natal, a colega decidiu viver onde o então marido tinha nascido, em Campinas, São Paulo. No município paulista, moravam em um sítio e cultivavam abelhas.

A morada em Campinas não foi também muito longa. Separou-se e, inquieta como qualquer outro poeta, decide voltar ao Rio Grande e resgatar seus dons artísticos. Consuelo matriculou-se, então, na faculdade de Artes Plásticas.

A colega considera esse momento um dos mais difíceis da sua vida. Não só pela solidão, mas por toda a dificuldade financeira que passou no momento. Ela não quis se entregar fácil, chegou a abrir uma butique para conseguir mais dinheiro. Mas, infelizmente, não foi o suficiente. “Parecia que a vida estava me dizendo que eu deveria mudar o meu percurso”, afirma.

Considerada uma das melhores alunas de seu curso, ela foi aconselhada por uma de suas professoras a voltar para Minas Gerais. Não só por conta das dificuldades enfrentadas no momento, mas para expandir as suas possibilidades de reconhecimento como artista.

Consuelo ouviu o conselho e, de volta a Belo Horizonte, terminou o curso de Artes Plásticas na UFMG e prestou concursos para órgãos públicos. Neste período, com tantas coisas vividas, já se pode imaginar a intensidade dos poemas que ela poderia escrever.

Trajetória na Justiça do Trabalho

E foi no retorno a “beagá” que a servidora começou a sua história no TRT. Mas a inquietude continuava: logo que foi convocada para o TRT-3, ela já tinha como objetivo se mudar para uma cidade que tivesse, entre outras características, uma melhor qualidade de vida e, é claro, uma boa praia.

Esse apreço pelo mar, que poderia até parecer um clichê sobre mineiros é, para Consuelo, um catalisador para a sua expressividade. Poucos anos após começar no TRT-3, ela conseguiu realizar o seu sonho e foi removida para o TRT-17.

E foi aí que os ventos das artes começaram a soprar a seu favor: bastou chegar no Espírito Santo que ela soube, por meio da Associação dos Servidores do TRT 3, a Asttter, que havia ganhado um concurso de poesia em Minas Gerais.

Daí para frente, a colega voltou a explorar o seu talento para poemas. “Eu consigo ver inspiração para um poema até vendo uma xícara”, comenta.

Consuelo nunca se permitiu cair na rotina, mesmo em uma profissão mais formal, como a de servidora. Com os seus conhecimentos em arte terapia, descobriu que sua missão é a de contribuir com a vida das pessoas. “Eu me sinto plenamente realizada quando minha poesia é uma semente ao vento e está germinando no coração das pessoas”, afirma.

Ela ministrou oficinas de arte terapia no TRT-ES de 2006 a 2011, e o feedback foi muito positivo. Mais que seu primoroso trabalho como servidora, a colega é conhecida pelos seus dons artísticos. E gosta muito disso.

Conquistas artísticas

Só no último ano, 20 coletâneas incluíram poemas da servidora em suas páginas. Seu talento é reconhecido no meio, a ponto que o seu poema, aquele que foi vencedor do concurso quando ela tinha apenas 10 anos, fosse incluído em uma coletânea chamada “Belezas de Santa Cruz”, de 2020.

Recentemente, Consuelo lançou a segunda edição do seu livro “A Viagem da Gotinha”, de categoria infanto juvenil. A versão, agora mais completa, pode ser adquirida por meio deste link.

“Quero unir meu conhecimento com o meu potencial”

Daqui para frente, Consuelo quer que sua poesia chegue cada vez mais longe. Ela vai resgatar as aulas de arte terapia em uma sala perto de sua casa e recolocar a arte como prioridade em sua vida.

Entre prêmios, coletâneas e poesias, a servidora pretende, quando aposentar, poder aproveitar a vida com as coisas que mais dão inspiração para a sua vida: seu marido, netos, filhos, boas viagens e muita, muita arte!

E assim continuarão a ser escritos os versos da vida de Consuelo, sendo essa pessoa que ama viver em toda intensidade, que ama as pessoas, a justiça e a criatividade.

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