Perfil: José Hamilton

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A fala tranquila, o jeito manso e a paixão por citar pensamentos edificantes. Esse conjunto de características faz o bate-papo com o oficial de Justiça aposentado José Hamilton correr tranquilo como uma sessão de relaxamento.

Seu ritmo é de quem sabe saborear cada instante da vida. Hamilton se aposentou pouco depois de um grande susto. Em 2018, pensando ter uma crise de gastrite, soube, já no hospital, ter sofrido dois enfartos nos dias anteriores.  Colocou dois stents e segue firme com seus projetos. “O ser humano é muito frágil, ao mesmo tempo muito forte”, pontifica.


Sempre esteve envolvido em trabalhos voluntários e, após a aposentadoria, começou a se dedicar especificamente em auxiliar pessoas em situação de rua. A pandemia está atrapalhando algumas ações, mas ele sempre encontra maneiras de ajudar.

Essa vontade de auxiliar o próximo foi despertada por uma antiga colega de trabalho cujo marido, já falecido, tinha problemas com álcool. Ela pediu ao Zé que aconselhasse o esposo.

Foram muitas conversas sobre a importância de procurar ajuda profissional até o rapaz, após várias recaídas, resolver buscar a internação. “A gente nunca deve desistir das pessoas”, ensina o colega.

Hamilton faz cursos e busca se aperfeiçoar na abordagem com pessoas em situações vulneráveis. Revela, no entanto, que à época do pedido da colega, não tinha nenhum preparo, mas defende ser a fórmula simples: “O fundamental é o olhar de compaixão. Sempre podemos fazer a diferença e ajudar outro ser humano.”

A empatia já o colocou em situações difíceis. No início da carreira como oficial de Justiça, por vezes, recebeu chamadas de juízes por não ter realizado uma penhora ou ter sido enrolado por uma empresa mais esperta. “Eu era muito inocente, mesmo”, recorda.

O tempo o fez conseguir separar o joio do trigo, mas isso não o impediu de passar maus pedaços. Ele se lembra da penhora em uma pizzaria. A cada visita para cumprimento de um ato judicial notava a dona do pequeno estabelecimento mais furiosa. No dia em que anunciou a penhora do forno, a coisa esquentou.

Destemperada, a mulher correu atrás dele “armada” com uma espátula e uma tesoura de cozinha. O colega que nunca foi um atleta teve seu dia de Usain Bolt. Para a história não acabar em pizza e o reclamante poder saborear sua vitória foi preciso reforço policial.

Havia dias difíceis. O marido de Josiania, pai de Thaís e Gabriel, desenvolveu uma técnica para não levar o estresse do trabalho para o lar. Ao chegar em casa, ia direto para o chuveiro e após o banho, deitava-se um pouco para respirar com calma, era quase uma meditação. Só então, mais leve, ia falar com a família.

Foi a esposa, no entanto, quem conseguiu deixá-lo com a respiração suspensa. Explico: Zé Hamilton prestou concurso no Rio, em 1985, à época o Espírito Santo era ligado ao Tribunal do Trabalho do Rio de Janeiro. Foi lotado em Vitória, e ficou, durante mais de um ano, telefonando insistentemente para o tribunal carioca, avisando do seu interesse em retornar à cidade natal. Quando conheceu Josiania foi sincero. “Assim que houver vaga, retorno ao Rio”, avisou.

Eis que uma manhã, recebe o telefonema do Tribunal carioca com a notícia tão aguardada. Passou a tarde angustiado, à noite foi conversar com ela e foi direto: Se você aceitar casar comigo, fico no Espírito Santo, caso não, volto semana que vem para o Rio. Vitória do amor e da capital capixaba ele só saí quando a esposa aposentar, mas o projeto é ir para perto, seguir para Iriri, onde costuma passar o verão. Essa é a praia do nosso colega.

Embora não tenha sido oficialmente o primeiro presidente da Ajustes, José Hamilton foi um dos coordenadores indispensáveis para que a associação fosse criada. Aliás, é um defensor fervoroso da ideia de estarmos unidos em associações ou qualquer tipo de entidade. É afiliado ao Sinpojufes, a Anajustra e, claro, a Ajustes.

Antes de terminar a entrevista, Hamilton faz questão de registrar os parabéns à atual presidência e aos demais colegas diretores da Ajustes que dedicam seu tempo para o bem da coletividade. “Somos companheiros da mesma jornada de vida. Juntos somos mais fortes”, conclui o colega.

Texto: Martha Aurélia Gonzalez

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