Entrevista: George Luiz

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No mês de aniversário da Ajustes, o entrevistado não poderia ser outro. O presidente reeleito da associação, George Luiz Barcelos Santos, está no TRT desde a criação, em 1991. Ele não só é conhecido, como também conhece todo mundo e todas as unidades da Justiça do Trabalho capixaba. Por conta do cargo, Técnico Judiciário-Agente de Segurança, viaja constantemente pelo interior do Estado. Encarar estrada é função que tira de letra o colega que já esteve pra lá de Bagdá.

Aqui, a expressão é para ser entendida literalmente. Antes de ingressar no Tribunal, George trabalhou no Iraque.  Foi contratado por uma empresa de engenharia para dar manutenção em máquinas. Morou no km 320, mudou-se para o km 360, depois para o km 390 e assim por diante.  Essas eram as distâncias de onde estava para a cidade de Bagdá.

George morava na estrada, mais precisamente no deserto, onde ficavam os equipamentos para manutenção. Ele e vários colegas brasileiros viviam em acampamentos e deslocavam-se conforme as obras avançavam. A construtora tentava oferecer o conforto possível. A maior dificuldade era o calor. Por conta das altas temperaturas, diversas vezes, o turno só começava quando o sol se preparava para dormir.

Naquela época, não havia celular nem internet. A comunicação era por cartas e, para fazer uma ligação, precisava-se do auxílio de uma telefonista. Uma vez, levou uma “bronca” da mãe por ter demorado a ligar para desejar-lhe feliz aniversário. “Aquilo mexeu comigo”, desabafou.

George trabalhou os cinco anos contratuais.  “Muitos colegas desistiram e voltaram antes, mas eu me adapto bem, não sou de reclamar.” No retorno ao Brasil, a empresa queria enviá-lo para uma outra missão, no Norte do país, mas o colega estava decidido a ficar mais tempo perto dos pais e passar junto todos os aniversários.  George é o filho mais velho de dona Maria e de seu Aldyr e tem quatro irmãs.

Em dezembro de 84, estava de volta. Três meses depois, conheceu a esposa. Com quatro meses de namoro, ainda sem emprego, pediu Lúcia em casamento, já marcando a data: “Daqui a dois anos a gente se casa.” E assim aconteceu.

O nascimento das filhas Renata, 30, e Luisa,28, é que o fizeram levar o hobby da fotografia mais a sério. Cada sorriso das crianças, um flash.  “Na verdade, não me acho um fotógrafo criativo, comecei a ler e estudar sobre fotografia despertado pelo interesse do modo de funcionamento da máquina”, revela.

No TRT, trabalhou em vários setores. Estava lotado na Presidência na época em que foram inauguradas várias Juntas de Conciliação e Julgamento, hoje chamadas Varas do Trabalho. Coube ao fotógrafo amador registrar tais eventos.  Querido pelos servidores que sempre lhe ofereciam o melhor sorriso, quase queima seu filme com os colegas da Presidência.

Explico: George era o responsável por comprar o lanche do grupo. Não raro voltava da padaria com os pães doces e o troco maior que o esperado. Um dia indagado, revelou o motivo. A padaria, muitas vezes, vendia os pães do dia anterior mais baratos. Apontá-lo como pão duro virou motivo de graça entre os colegas, que não davam desconto quando encontravam chance para uma brincadeira. George relembra a história sorrindo, mas, para deixar tudo preto no branco, o fotógrafo revela: Todos continuaram a comer o pão doce do mesmo jeito.

Sim, ele tem a economia como hábito. Antes de fazer as compras do mês visita dois ou três supermercados para checar preços e alerta: “Não é porque está escrito promoção que de fato está mais barato.” Saber o preço das coisas é outra dica do colega.

Em casa, instalou um sistema de aquecimento solar há 15 anos e, há cinco, tem energia solar.  Bom para o bolso e para a natureza. Defende a reciclagem. Sempre que possível utiliza a bicicleta como meio de transporte e, no mercado, pede caixas de papelão em vez de sacola plástica. É capaz de gestos pouco comuns como levar o saco de pão vazio à padaria para comprar mais do alimento. Sim, George é verdinho.

Se no orçamento está sempre fazendo contas para não entrar no vermelho, a família e os amigos conhecem seu lado generoso.  Os pais moram no primeiro andar da mesma casa. George é o responsável pelos cuidados pessoais do pai, que, hoje aos 93 anos, já não possui o mesmo vigor físico.

“Pai” de dois gatos e de uma cachorra, também colabora mensalmente com uma associação de proteção aos animais. Além da mensalidade, já tirou do seu salário o pagamento para cuidados médicos de animais resgatados na rua.

O dito “pão duro” tem coração mole, mas saber fazer contas foi determinante em um momento delicado para os servidores. Quando o Tribunal deixou de administrar o plano de saúde da Unimed, George defendeu que a Ajustes poderia assumir a tarefa.  Não foi uma decisão fácil, mas ele bancou.

Por conta disso, a associação cresceu, multiplicando o número de associados. Por isso é um defensor de programas ligados à saúde, como o pagamento de professores para diversas modalidades de esportes. Não é preciso competir nas Olimpíadas da Justiça do Trabalho para participar das aulas. O maior objetivo é preservar a saúde do servidor.

 “Além da melhoria de qualidade de vida, a saúde é um benefício para todos, quanto menos ficarmos doentes, menos utilizamos o plano, menor serão os reajustes.” Assim, na sua administração, implantou vários programas, como ginástica laboral com fisioterapeutas para todas as unidades do órgão, e está sempre fazendo campanhas para aumentar a participação dos servidores nas Olimpíadas.

O incentivo às atividades físicas não parou nem durante a pandemia. Há aulas de pilates e ginástica online.  E como não basta ser presidente, tem de participar, nosso colega não só veste, como também sua a camisa. Concorre no ciclismo, atletismo e trouxe até medalhas. Aliás, na modalidade salto em altura, já pode pedir música no Fantástico, é tricampeão.

Seu sonho mais alto é ver todos os associados participando das atividades e ações promovidas pela Ajustes. No atual mandato, pretende estreitar ainda mais a relação dos servidores entre si e com a Associação. Transparência e engajamento são as palavras de ordem.

Esta entrevista foi concedida após sua participação no Coral Plena Voz, outra atividade proporcionada pela Ajustes. Com a garganta aquecida, o presidente soltou a voz de tenor: “Não podemos nos isolar. Aproveito para conclamar maior participação de todos. Nós, da administração da Ajustes, estamos abertos a críticas e sugestões.”

George revela sentir falta dos encontros, dos abraços e da sempre esperada festa de confraternização, mas acha difícil ocorrer neste fim do ano.

O reencontro com os colegas, a possibilidade de curtir a vida com mais intensidade são desejos comuns dos servidores. Se ainda não for possível este ano, em 2022, certamente, a Ajustes brindará todos os associados com uma bela festa. Nem precisará ser uma festa das arábias para ser inesquecível.

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