O primeiro emprego de Alexandre Diláscio foi na empresa responsável pela impressão dos bilhetes (aqueles das Casas Lotéricas) e do controle da premiação da Loteria Federal. Morava, então, no Rio. Não demorou muito para tirar a sorte grande e ser contratado pela maior produtora mundial de celulose branqueada. O trabalho o trouxe a Vitória.
Na empresa, atuou, por cinco anos, na área de informática. Seu papel era controlar a produção de celulose. Ganhava bem, mas a carga horária era desgastante. Podia ser acionado a qualquer momento. E isso incluía não só os fins de semana, como também a madrugada.
Em busca de melhor qualidade de vida tornou-se servidor público. Alexandre é do concurso de 1994. Desde o primeiro dia no TRT, trabalha com informática. Quando ingressou, o setor era chamado de Centro de Processamentos de Dados (CPD).
Significa dizer que entrou quando ainda não havia internet no Tribunal, e o disquete 5¼ polegadas era uma revolução. O colega o guarda como lembrança e, na memória – na sua, não na das máquinas -, muitas histórias.
Certa vez, uma grande poça d’água quase foi responsável por interromper o funcionamento da Justiça do Trabalho na capital. Explico. Naquele disquete, estava a ferramenta Genexus, única “chave” de controle da estrutura que administrava os programas do TRT e das Varas de Vitória. Sem tal dispositivo não se acessava o sistema de acompanhamento processual (SAP), uma espécie de tataravó do PJe. O único disquete era, então, levado ao prédio das Varas quando necessário.
Alexandre percorria a pé o caminho do prédio das Varas ao do Tribunal, quando avistou um ônibus em alta velocidade se aproximando de uma enorme poça d’água formada por um vazamento. Ao perceber que o “banho” seria inevitável, só deu tempo de virar o corpo e proteger o dispositivo.
Chegou à sua sala encharcado, mas com o disquete seco nas mãos.
Sim, durante todos esses anos, o colega molhou a camisa, participando da evolução e do crescimento não só da sua unidade no Tribunal, como também do uso da informática no cotidiano.
“Esperava-se que a tecnologia melhorasse a forma de trabalho, sobrando, assim, mais tempo livre. De fato, o desenvolvimento tecnológico facilitou muita coisa, mas as pessoas são bombardeadas por informações o tempo todo, e a evolução não tornou necessariamente menor a carga de trabalho.”
Palavras de quem entende do riscado, ou melhor, do digitalizado. Ao contrário do que se pode pensar, o colega não é um viciado em computador ou internet. Nos fins de semana, segue para um chalé nas montanhas. O detalhe decisivo na hora de adquirir o imóvel foi o fato de – no local – não “pegar nem internet”, conta com a voz grave e uma expressão no rosto entre o sério e o meio sorriso, semblante comum ao fazer uma brincadeira.
Nas montanhas, conecta-se com o canto dos pássaros, o som do riacho, o farfalhar do vento nas laranjeiras da propriedade.
Também se diverte com as panelas. Reunir a família para comer bem é sempre uma alegria, conta o mineiro de São João del-Rei. Queijim e uma pinga para relaxar são de lei, mas a especialidade do moço nem passa perto do frango com quiabo ou leitão à pururuca. O que cozinha melhor é a moqueca. Trem bão demais, né?
O meio sorriso volta ao rosto ao revelar ser o responsável pela atualização da expressão “saudades da comidinha da mamãe”. As mulheres não querem mais cozinhar, dispara, “acredito que meus filhos sentem saudades é da comidinha do papai”.
Será que ele também faz cookies? Doces ou salgados, não importa, o fato é que as filhas do primeiro casamento, Luisa, 29, e Júlia, 24, sempre aparecem para fazer uma boquinha. Com a atual esposa, Eduarda, tem Arthur,13, e o filho de coração, Bernardo, 21.
Canceriano, gosta muito de ficar em casa, mas diverte-se ao viajar. Só não é de tomar a iniciativa de fazer as malas. Cabe, então, à mulher organizar tudo. A tarefa de Eduarda não é difícil, uma vez que ela trabalha com turismo. Sua especialidade é a Disney. Conhece tudo sobre esse mundo mágico.
“Ela não enjoa de visitar a terra do Mickey Mouse. Acho que me trai com aquele camundongo, não acha?”
Eu responderia ao Alexandre que cada um tem o seu mouse favorito.